sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O MARKETING E A CAVERNA DE PLATÃO


Por José Gilderlei Soares - professor e militante do PT

No livro “A República”, Platão narra que o filosofo grego Sócrates propôs aos seus ouvintes imaginarem um grupo de prisioneiros acorrentados em uma caverna, sem nunca poder virar para fora, onde há uma fogueira cujas chamas projetam dentro da caverna as sombras das figuras dos homens. Os prisioneiros, que nunca viram o mundo exterior, pensam que as sombras e o eco das vozes são reais. Assim, tudo que os acorrentados conhecem do mundo são sombras de objetos fabricados. Mas, como não sabem o que se passa atrás deles, tomam essas sombras por seres vivos que se movem e falam. Platão usa essa narrativa alegórica para tentar explicar a diferença do conhecimento grosseiro do senso comum, que vêm de nossos sentidos e opiniões, e o conhecimento verdadeiro, que sabe apreender a aparência e as ideias das coisas.

Uso essa alegoria para falar do capitalismo. Nos primórdios do capitalismo a produção girava em torno das necessidades de consumo humano, ou seja, não se investia em algo que o consumidor não julgasse necessário adquirir.

Todos os avanços tecnológicos dos dias atuais tornaram as mercadorias descartáveis. Por exemplo, não basta ter um aparelho de celular, é preciso ter um aparelho de celular de “última geração”, com formato moderno e mil e uma funções. A publicidade consegue tornar tudo o que é supérfluo em necessário, fabricando suas necessidades. Assim, o capitalismo coloca o mercado como modelo supremo.

Em tempos atuais, marcado pelas superproduções de bens de consumo, o capitalismo inverteu o processo através da publicidade: Já não é o consumidor que vai atrás do produto, é o produto que se impõe ao consumidor.

Se na narrativa de Platão os acorrentados contemplavam sombras como verdadeiros seres vivos, nos dias atuais, o consumidor contempla as novas mercadorias que o marketing diz que ele tem que adquirir. Para um jovem morador de um bairro popular um tênis da Nike passa a ser mais importante do que o investimento em sua escolaridade e vida profissional.

O mesmo ocorre com os “ídolos” fabricados pela televisão, embora conheçam apenas suas “sombras” (fama, riqueza e poder) projetadas pela mídia, nossos jovens sonham e imitam suas características.

É preciso que ocorra o mesmo que no mito da caverna de Platão: Um prisioneiro se liberte e, lutando contra o comodismo de sua situação, consiga sair em busca do conhecimento da verdade. Quando consegue este conhecimento, volta para ensinar o caminho para os outros, mesmo correndo o risco de ser rejeitado por eles.

Imagem: ESDC

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