segunda-feira, 14 de maio de 2012

A saga de um povo

Por Rodrigo Bonsuê Feitosa

Somente um povo que tem a bravura por emblema e a luta pela sobrevivência digna como bandeira, é que consegue intrepidamente sobrepor as agruras de um chão inóspito. Com a precisão de um sábio, Euclides da Cunha definiu o nordestino como: "antes de tudo um forte", assim não o fosse, o campesino do nordeste não faria brotar o pão da vida de uma terra tão seca. Castigado pelos fatores climatológicos, e explorado pelo homem "elitizado" o nordestino segue o curso triste de um conto trágico, não menos as secas que nos vitima, tem-se também um modelo de exploração histórica principiado com a má distribuição de terras, e que já dava o prognóstico das desigualdades que se descortinariam por séculos a fio.

Neste modelo, firmou-se o subjugo patronal do senhor da terra sobre o campesino, que não tinha campo para plantar e sobreviver, restando como condição a submissão do vassalo pelo suserano. Distinto pela sua bravura, o nordestino empunhou armas e foi a luta, sendo que na figura de Antônio Conselheiro, mostrou a coragem e o poder de resistência de nosso povo em nome de uma causa justa, digladiando contra as amarras da injustiça que perduravam no sertão tão marcado pela miséria, violência e abandono político.

As hostilidades de uma terra seca, e as dificuldades de sobrevivência que dela brotam, torna difícil a vida no solo sem água, dizimando rebanhos, escasseando alimentos e ressecando as poucas esperanças do homem do campo, sendo que estas muitas vezes estão atreladas e dependentes de um assistencialismo escravizante. Por pujança de uma realidade dolorosa, o nordestino viu-se forçado a migrar para outras regiões em busca de sua subsistência.

Corajosamente rumou em direção à floresta amazônica alavancando a mão de obra no chamado ciclo da borracha, também seguiu em direção ao eixo São Paulo-Rio de Janeiro-Minas Gerais em busca de uma vida melhor do que a realidade das secas. Porém, a luta pela realização do sonho da subsistência em terra estranha, sempre foi tão dura quanto as discriminações sofridas, quase sempre lhe restaram a mão de obra menos valorizada, além das ojerizações pessoais e irracionais em virtude de sua origem regional.

Tomando a miséria alheia como subterfúgio legitimador de um modelo político mesquinho e rude, é que o cenário da política nordestina sempre foi marcado principalmente pelo clientelismo ludibriante e ilusório, que inibe o avanço social ao passo que também aliena o processo democrático participativo a interesses particulares, ou mesmo de um grupo privilegiado, formando as famigeradas e indesejadas oligarquias.  Como forma de manipulação das massas, são comuns os paliativos que se apresentam como eficazes na solução dos problemas (seca, violência, analfabetismo etc.), mas na verdade incidem apenas sobre os efeitos e ignorando, portanto, as suas causas, e assim revelando o descompromisso para com a massa oprimida.

Por mérito á sua luta, e em negativa a Euclides da Cunha que disse: "nada supera a principal calamidade do nordeste, a seca", é que o nordeste tem se apresentado como celeiro de intelectuais, e palco de lutas seguidas de conquistas, que em muito encorajam e justificam a saga de um povo obstinado em seus valores e movido pelo desejo de igualdade material, e não meramente formal ou exemplificativa , mas acima de tudo que reconheça o seu valor.

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