domingo, 8 de janeiro de 2017

Recife mal assombrado é tema de HQ de ilustradora pernambucana

O Recife mal assombrado é o pano de fundo do novo trabalho da ilustradora pernambucana Roberta Cirne. A artista está em fase de finalização do HQ Sombras do Recife, em que narra histórias ambientadas em cenários conhecidos do público recifense usando personagens também populares no imaginário popular. Para viabilizar o projeto, a artista lançou uma campanha de financiamento coletivo por meio da qual pretende levantar fundos. Clique aqui para doar.

O livro de ilustração é a culminância de quase 20 anos de pesquisa na internet, livros e documentos sobre o contexto do Recife em diversas épocas diferentes e sobre as principais lendas urbanas da cidade. "Sempre gostei muito da temática de horror, desde criança, e já escrevia contos de suspense com 9 anos. A ideia da HQ surgiu em 1998, em um formato diferente. Eu queria fazer um quadrinho misturando cultura local com vampiros, pois já tinha personagens e histórias nesta linha de terror mais globalizado", conta Roberta.

O trabalho de pesquisa investiga elementos do passado não mais disponíveis ao público com o objetivo de dar às ilustrações embasamento histórico . "Aos poucos fui refinando a história, à medida que lia mais sobre os usos e costumes da cidade, monumentos demolidos e desaparecidos, roupas, personagens pitorescos, doces, usos e costumes, coisas que só Recife tem. Fui juntando o material de referência ao longo dos anos em reportagens de jornais, livros encontrados em sebos, fotos, arquivos. Ainda tenho os manuscritos desta época e a pesquisa histórica que fiz guardados, pois se trata de material praticamente inédito na internet, de livros que nunca foram reeditados em dezenas de anos", revela a ilustradora.

Quando finalizado, o primeiro volume de Sombras do Recife - ela pretende fazer três - contará duas histórias: Boca de ouro e A velha branca e o bode vermelho. A primeira trama é ambientada entre os anos 1911 e 1913 e aborda as reformas acontecidas na cidade, a demolição do porto e a vida noturna dos cafés da praça do Diario com o surgimento do jogo do bicho e a boemia do início do séc. XX.

"Boca de ouro é um condutor de bonde de burro no Recife de 1913, que está passando pelas reformas e mudanças de transportes urbanos. Humilde e com os dentes estragados, ele sonha em ficar com a mulher que ama, mas que é casada.  Ele é demitido, e resolve entrar para o jogo do bicho, que acabou de chegar na cidade. Torna-se o maior bicheiro da cidade, coloca uma dentadura de ouro e casa-se com a mulher amada, após assassinar o esposo dela. O que ele não sabe é que a história tomará um rumo inesperado e terrível", revela.

Já  A velha branca e o bode vermelho usa duas lendas locais: a da criança fantasma e da velha que encontra um bode vermelho. "Foca no Recife de 1885, a sociedade da época, as cadeiras de arruar, anquinhas, missas, teatros, as chamadas 'negras de ganho' (que vendiam doces para os patrões) e toda a sociedade recifense, bem como as relações escravistas dos fins do século XIX", detalha Roberta. 

A autora
Roberta Cirne é uma das poucas ilustradoras mulheres de Pernambuco. Atuando na área desde 1992, ela revela que conhece poucas colegas de trabalho mulheres - quase todas de outros estados. Ela publicou quatro volumes de História desenhada em parceria com Amaro Braga Passos Perdido pela Fundarpe e pelo Ministério da Cultura. O trabalho recebeu, em 2007, o prêmio HQ Mix de Maior Contribuição do Ano. Ela também já abordou a história da população negra em AFRO HQ, em que fala sobre a formação do continente africano até os dias atuais em uma história contada pelos orixás, além de Heróis da restauração, sobre a invasão holandesa.

Assista ao material promocional:




Fonte: Diário de Pernambuco

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