segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sobram vagas de emprego no Japão, afirmam agências do Brasil

Camila Sanefugi
Após o terremoto e tsunami ocorridos no Japão em 11 de março, donos de agências de emprego em São Paulo e no Paraná registraram forte queda na procura de brasileiros por vagas no país. De acordo com os escritórios de emprego, há vagas para brasileiros sobretudo no setor alimentício japonês e a expectativa é que o ramo da construção civil também contrate em poucos meses.

Até 18 de março, a procura caiu 100%. Na semana seguinte a procura voltou um pouco, mas eu diria que ainda está de 60% a 70% abaixo do normal”, afirma Kléber Ariyoshe, da agência de empregos Itiban, em Maringá (PR). Segundo ele, entre os que já estavam com viagem marcada, apenas 20% adiaram para o próximo mês, mas não cancelaram.

Para Armando Shinozaki, diretor da TGK, agência para empregos no Japão, localizada em São Paulo, houve uma redução de 50% na procura de empregos em seu escritório. “Toda vez que acontece algum tipo de crise internacional, seja gripe aviária ou terremoto, o embarque de brasileiros para o Japão é afetado, mas a situação está muito mais tranquila lá do que parece aqui no Brasil”, afirma Shinozaki.

A diferença também foi sentida por Paula Nitie da Silva, da agência Temari Travel, de São Paulo. “Antes a procura diária era de 10 a 14 pessoas, hoje vêm três ou quatro. E muitas pessoas só perguntam se as empresas ainda estão pegando [funcionários]”, comenta.

Estamos recebendo e-mails de empresas do Japão preocupadas se o pessoal vai querer ir para lá, porque eles têm uma demanda tão grande de trabalhadores que estão com medo de as pessoas não quererem mais ir. Eles estão preocupados com o que a TV mostra e estão pedindo para tranquilizar os brasileiros”, diz Shinozaki.

De acordo com os recrutadores, o momento é do setor de alimentos. Mas, segundo Paula Nitie, daqui a alguns meses será a vez do ramo da construção civil. “A parte que faz esquadrias de alumínio, ofurô, pia do vaso, telhado, com certeza vai precisar mais para frente”, afirma.

Por um futuro melhor

Apesar da queda na procura por empregos no Japão, há quem queira ir para o país em busca de melhores salários. A webdesigner Camila Oliveira Sanefugi, de 21 anos, moradora de Maringá (PR), vai para o Japão pela primeira vez e tem esperanças de “ficar uns dois ou três anos no mínimo, para construir um pouco o futuro no Brasil”. Camila vai encontrar o marido que está no país há quatro meses, mas já tem um emprego garantido esperando por ela em uma fábrica de componentes eletrônicos.

Apesar dos desastres naturais ocorridos no Japão, Camila se sente segura por ir para Izumo, cidade distante da região Norte, a mais atingido pela tragédia, e comemora que conseguiu tirar o visto. “Estou superfeliz, era perigoso recusar, foi complicado, tive que juntar mil documentos, mas deu tudo certo e posso embarcar no dia 5 se eu quiser“, disse.

Em relação a adaptação à cultura japonesa, a brasileira espera não ter problemas. “Eu gosto de comida japonesa, então acho que vai ser fácil. Meu marido fala japonês, já morou lá antes, então vai ser mais fácil ainda”, comenta. “Lá pode estar a crise que for, é mil vezes melhor que o Brasil”, completa Camila.

Picos de produção

As empresas de alimentos estão localizadas principalmente no Sul do país, mas a produção é enviada para todo o país. Atualmente, boa parte é enviada para as regiões afetadas no Norte do país. “Mais do que nunca a indústria de alimentos precisa de pessoas, porque agora ela tem picos de produção, as fábricas estão produzindo a mais para mandar [alimentos] para os abrigos e repor os estoques dos supermercados”, afirma Shinozaki.

Para o setor de alimentos, antes solicitavam umas quatro pessoas, hoje se eu tiver 20 ou 30, eu coloco [na fábrica]”, afirma Paula. “É o ramo que paga menos por hora, contrata pessoas de todas as idades. Agora as empresas estão distribuindo comida nas regiões afetadas, por isso estão pedindo mais gente”, completa.

Remuneração

Apesar de estar em alta, o setor de alimentos não é conhecido por pagar bem entre outros ramos da indústria japonesa. “O salário varia muito, gira em torno 160 a 170 mil ienes mensais, sem hora extra, o que seria o equivalente a US$ 2 mil [R$ 3,2 mil]. Mas em determinadas empresas você consegue ganhar até US$ 4 mil [R$ 6,5 mil], fazendo hora extra”, afirma Shinozaki.

A hora extra de trabalho é prática muito comum entre os operários japoneses, tanto que é quase considerada parte do salário normal. “No setor de alimentos, o valor da hora é em torno de R$ 20, se fizer hora extra é 25% a mais do valor, se for à noite, é mais 25%. Construção civil paga melhor, cerca de R$ 30, é uma área que tem vagas, mas não tanto quanto na de alimentos”, afirma Kléber Ariyoshe.

Como se candidatar

A maioria das agências expõe as vagas disponíveis em sites. O processo costuma ser o mesmo em todas as agências: o candidato preenche uma ficha e, após análise, ele é chamado para conversar e escolher uma vaga mais adequada ao seu perfil. “Tem muita vaga, mas não é todo brasileiro que quer ir pra lá”, diz Shinozaki.

Depois de tudo acertado, o trâmite é com a companhia japonesa. “Chegando ao Japão, a empresa já tem moradia disponível, eles buscam no aeroporto, encaminham na prefeitura pra tirar o RG japonês e inicia o trabalho o mais breve possível”, explica Paula.

Não possuir conhecimentos da língua não é um impedimento,  pois 80% das fábricas aceitam brasileiros que não falam japonês, segundo Kléber Ariyoshe. “Mesmo que não saiba falar nada, sempre tem um tradutor no escritório e muitos donos de fábrica são brasileiros também”. Esse é um dos motivos, de acordo com os especialistas, muitos brasileiros chegam a permanecer 15 anos do outro lado no mundo e voltam sem falar o nível básico de japonês.

A cordo entre países

Outra razão para que tantos imigrantes voltem sem falar japonês é o tamanho da comunidade brasileira instalada no país. De acordo com o Consulado Geral do Brasil em Tóquio, atualmente vivem 317 mil brasileiros no Japão. Esse número é favorecido pelo acordo entre Brasil e Japão que dá visto de trabalho aos brasileiros descendentes até a 3ª geração, com o cônjuge. Este é o caso do empresário Roberto Toshiyuki Matsukawa, 44 anos, de São Paulo (SP). Filho de japoneses, Roberto já morou por 20 anos no Japão e está se preparando para voltar.

Apesar de ir para trabalhar na indústria de eletrônicos, Roberto acredita que a realidade econômica do país é pouco promissora. “Economicamente, já foi bom. Quem aproveitou de 1990 até 2000 foi bom, agora é só raspa de panela, não vai conseguir muita coisa”, diz. O sonho de juntar de dinheiro para comprar imóveis e carro no Brasil precisa ser revisto, de acordo com Roberto. “Se você quiser comprar um imóvel, com dois ou três anos de trabalho não dá mais, tem que ficar no mínimo uns cinco.

Descontente por sair do Brasil, Roberto se diz realista sobre a mudança. “Não dá pra colocar fantasias. A gente sempre pensa que a casa do vizinho é melhor, não é? Mas só saindo do país para ver que o Brasil é o melhor lugar para viver.

Fonte: G1/Globo.com

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