terça-feira, 1 de maio de 2012

[Prosa] O Diálogo dos Deuses

De Luíz Carlos de Almeida

Personagens: Ser. Onipotente. Filho Expulso.

Ser ao perguntar a si mesmo através de personagens presas em sua mente e em seu interior:

ONIPOTENTE:
O que fizeste?! Vejo que seu psicológico ao entrar no mais fundo particular de sua consciência e ao perceber que sobre ti pesa milhões de toneladas de arrependimento e vergonha, misturadas as mesmas com a imundície de vossos pecados de frivolidades e fornicações com os porcos mais imundos e rastejantes da minha Terra logo ver que a tormenta do meu castigo infligido a ti é tão esmagadora que vosso ser sangra através do corpo e da alma e espírito. Não tremas, pois vosso ser deverá ser forte tanto quanto vossa vergonha!... Pois que mim venhas eu! Não criei eu um instrumento que ao maneja-lo sempre provoca um ferimento e que não posso largá-lo, pois ao largar tal serviço minha alma se extingue, porquanto o esforço de tal trabalho produz a ceiva que mim sacia...

SER:
Não se atormentes com as minhas manias corriqueiras, só ando um pouco insatisfeito com uns pensamentos que antes as luzes do céu e meu corpo não tinham tocado, pensamentos tão pesados que nem todas as visões que minha vista consegue ver atingem o peso em que contém em seu menor átomo de massa.

ONIPOTENTE:
E não tinha eu com vácuo feito seus conceitos, e do vazio do nada constituído cada parte de vossos neurônios? E do que mim surpreendo agora?! Um espírito de carga antes neutra absorvido com enorme força atômica! Não é de se espantar, pois para nossa expiação queremos nossos erros! E sempre fui digno de saber e advertido pelo que expulsei de minha casa, meu filho, fruto de minha energia, o mais belo e sábio entre todos que concebi que meu arrependimento seria tão grande quanto eu, mais minha compaixão pelo meu flagelo ultrapassaria minha grandeza.

FILHO EXPULSO:
Minha alma se compadece perante meu orgulho e meus joelhos se dobram adormecidos, anestesiados diante de minha bela inteligência. Sempre fui digno de ter acima de minha cabeça, assinalando a todos a minha sabedoria e orgulho, orgulho! ... Sobre tudo o orgulho: para os bravos e destemidos damos condecorações e recompensa e as tropas dos exércitos vitoriosos após mancharem o chão com o sangue das legiões inimigas sempre cumprem de se abastecerem de orgulho nas tabernas e nos seios flácidos das vadias; ó espírito de sabedoria e beleza afogo todas minhas forças no fundo de minha luz. Não sou eu o mais sábio e belo entre toda a sua criação! Diz o poeta, um louco que a terra germinou: “ó tu o anjo mais belo e o mais sábio senhor...” Ora, isso é tão digno! Isso mim serve como louvor!

ONIPOTENTE:
Sei que o seu espírito é o mais dotado de inteligência e virtudes, porém isso não é maior que vosso castigo. Vosso castigo é capais de consumir todo o Cosmos e todas as fronteiras da imaginação. Como o fígado de um homem que cresce exposto para ser devorado por aves de rapina como castigo de outro delito... Há,... Tu nunca alcançarás o tamanho de um milionésimo de milímetro de energia comparada com a minha. Pois sou o Onipotente sobre todos e sobre tudo, o Alfa e o Ômega o Fim e o Começo da linha infinita do Tempo e ao mesmo instante todas as Dimensões que se conectam formando o Universo. Sou eu a águia esguia de olhos que tudo consegue ver e que nunca erra o alvo que quer atingir, capturo a presa desejada com o mínimo de esforço. Minha interação comigo é a mesma de todos os seres, o intimo de todos os racionais e os instintos dos brutos estão interligados através de minha racionalidade e seus impulsos nervosos são partículas que juntas integram meus neurônios, fazendo desta forma com que eu saiba de tudo que acontece pelas brumas intermináveis do espaço contiguo. De um pequeníssimo ponto que se comprimia no nada, vagando por entre o vácuo negro, mergulhado no mais fundo em um extremo buraco. (... “Sem o chão como guardar o defunto queimem a carne em putrefação como forma de livrarmos o mundo da peste de vossos chorumes”...). Eu mim balançava e se enrolava adormecido na grande rede negra do universo. Existo antes mesmo da pequena panela de barro, a que os vossos chamam pandora... Desde que os fragmentos da pequena panela de barro se espatifaram no chão negro da gravidade, como ela caiu espetacularmente bela e majestosa no tabuleiro negro da gravidade... Eu já existia. Sou tudo que existe, a introspecção de tudo, sou a morte da própria morte e a morte de mim mesmo. Sabendo que não é capais de evoluir mais do que é em realidade construído, tendo a dor de estar no canto isolado do foço tu sempre estará pelos tempos invejando minhas ovelhas que crescem continuamente e estão sempre a subir um degrau da evolução substancial de seus corpos e espíritos.

FILHO EXPULSO:
E o que vos digo, constituis sem dúvida o mais poderoso. Porém há o crescimento do ser, sua energia flui, o gigante que está fermentando vagarosamente sua força destrutiva e maléfica está por vir, o embrião já está gerado em sua mãe majestosa. O profeta que guiará as nações do continente, do Oriente, os vermelhos, será tão digno de igualar sua fama e presença de espírito quanto à do vosso nazareno, as ovelhas que ceifo de ti carregarão minha marca a ferro e brasa. “Esplendido é o ouro quando funde e o corpo ardente da mulher que amas, o prazer revigorante de um gozo profundo, o vinho negro que escorre do pescoço de seu inimigo que sangra.” Assim grita e canta o homem nos bares, nos prostíbulos, nas festas de luxúrias e nas alucinações dos líquidos e fumo e quando suas almas sangram pelas valas e vielas podres da cidade formigante, o que resta é o cheiro pútrido de carniça, de pilha e pilha de ossos fervendo formando uma sopa de enxofre odorante. Vêm todos até mim, e ao perceberem que a realidade posta em vossos olhos mesmo existe, consigo de cada minuto transmuta-lo em cem anos. E as torturas mentais e ilusórias que atormentam seus cérebros transformando a perspectiva num funil estreito e cilíndrico. Isso é esplendido e revigorante é o máximo nirvana! Sei eu que não posso evoluir além do nível que mim foi imposto por ti e assim também meus irmãos, mas a força que emana de mim é o bastante para enfiar-lhe uma lança, alcançarei o Eter de sua morada e lhe abrirei uma ferida, a vergonha de sua chaga ficará exposta e quando as suas “ovelhas” amadas virem seu semblante eles terão medo e fugirão e se esconderão nos buracos e nas cavernas tamanho o será o medo. A ruína e a calamidade sempre andaram juntas ao lado de vossos bonecos orgânicos, todos os quadros congelados nos milênios estão gravados com manchas negras da perdição na terra, o crescimento, que tanto vos vangloria aos teus, formiga, belisca o pé do fantoche leproso que larguei, a peste é o destino: atrai a prostituta com seus talentos do libertino ao pai de família, o álcool amargo desce na garganta tanto do mendigo amaldiçoado pela mãe quanto do sacerdote opulento de vossos palácios. Outros se dizem melhores por terem nos templos que frequentam as janelas maiores com vidraças de cristal; outros se têm no orgulho, e a palavra que pregam em teu nome não é digna a todos, fazendo selecionar cada qual pelas calças que vestem; outros se acham na riqueza, negociando como as mercadorias as palavras abençoadas; outros já não estão entre os mortais por serem tão santificados os vossos nomes; grandeza e santificação é o ato aclamado, no picadeiro do circo mundano figuram os vermes da terra.

ONIPOTENTE:
Ferveu agora em erupção a palavra que vos direi, assim imaginemos as cenas desejadas por mim; criemos o ecossistema que integrará um mundo composto. Na palma da minha mão esquerda observe a ilustração do que vos explico para colocarmos em ordem o espetáculo futuro dos tempos que se desdobram: na minha mão esquerda amaço a massa para formar um planeta. Veja bem que tudo neste globo que organizei tem as mesmas condições para vida de seres, criaturas assim como o homem, as mesmas da terra, o sopro da vida está em seus corpos animando-os para desejos e caprichos meus. Porem observe que as criaturas daqui não têm as mesmas dimensões do homem terreno, porquanto são achatados, planos, são apenas linhas, nada para baixo e cima, direita ou esquerda, frente ou traseiro e assim por diante, não tendo mais que uma dimensão. Pergunto, se por destino universal outro ser aparecesse nesse planeta, um ser terráqueo, um homem, o que os seres deste planeta, aqui na minha mão, diriam dele?

FILHO EXPULSO:
Comigo tenho no mais intimo possível o fogo que arde de ódio pelos homens, da maldição imposta por ti a minha existência em me ter como um mero bastardo largando-me ao abismo de magma em que me encontro, nesta escuridão onde a amargura e o tédio eterno descansam raciocino sempre danar o máximo de almas possíveis, meu esforço por mais rasteiro que fosse já era o bastante para engana-los, porque se num recipiente conseguisse conter a ignorância do homem o vidro teria a vastidão do horizonte a vista e o fundo seria como um buraco-negro, quanto mais espíritos nele apreendidos mais espaço para um próximo hóspede estaria disposto. Conheço uma história que um dos mais antigos dos teus contou-me, mais ou menos assim...

Foi disposto para esconder num pequeno vaso cerâmico
As Distancias e os Tempos e as Galáxias e os Mundos
Estavam comprimidos vagando no extremo de um ponto
Por entre a escuridão interminável do vácuo.

Com o preção que os Tempos impunham aos átomos
O barro cedeu às violências dos Tempos
E por entre as dimensões conectadas do nada
Do vaso fugirão as Galáxias as Distâncias e os Mundos.

E entre as Galáxias e Distâncias existiu uma grande amizade
E desta amizade um romance surgiu muito intenso
E deste romance intenso um magnifico Ser foi gerado
Para com ignorância largar por uma paixão seus legítimos filhos!

E eu como o mais belo entre os meus irmãos
E por mim meu pai ter o apreço por ser o mais sábio
Fui deixado de lado como o mais adorado
E expulso de minha casa ao causar inveja e rebelião!

E o meu exilio e refugio foste o mais maldito
Entre o infinito suplicio do tédio e o ódio
A minha mente vagava por um eterno ócio
E o meu corpo com chagas jazia ao frio!

Mas em minha alma o fogo ardia com o rancor
E as chamas do ódio mim consumiam
As doentias feridas e as chagas do meu corpo
Com a resplandecência do meu espírito orgulhoso ficaram curadas!

Nada além da solidão deixa o espírito tão pensativo ao ponto de deixa-lo sábio!
Era o que minha alma gritava intermitentemente.
Refleti pelos Tempos e a resposta que a chama acima de minha cabeça diz:
“Que tu estás em todas as partes, pois todos os homens és tu!”

Aí está vossa resposta! O poder que se concentra em nós e em nossas dimensões é superior ao contido nas dimensões a que pertence o homem. E é indigno a vós, meu pai, e vergonhoso aos meus legítimos irmãos termos menor parcela de teu amor. Logo nós! De nossos louvores e cânticos de adoração alimentamos vosso espírito, e o Cordeiro dorme ao lado do Livro que reflete raios ofuscantes de luz. Porém não é digno ter ao vosso lado o que na terra andou, e entre os homens foste humilhado. Sua magnifica grandeza foste jogada na lama em teu próprio nome e as tuas custas. Não era necessário sentir como a carne humana é frágil e compartilhar com eles a suas dores! E como eu ofereci meu companheirismo ao pobre louco! Mas a força que ele depositava em ti foi bastante forte para defender o trono teu! Logo foste benevolente demais com o maltrapilho e o abastecia com teus poderes! Nenhum prazer ou vício o manchava, sua alma fortificou-se para a vida, o vigor do homem esteve em seu ápice! A maldita raça humana foi salva de pecados e a vergonha foi a minha cruz! Derreti-me no suor do ócio, a febre delirante do tédio sufocou-me aos poucos, torturando meu psicológico com os ferros alucinantes da solidão em fogo!

Nada além da solidão
Deixa o homem tão pensativo
Ao ponto de torna-lo sábio!
...
Aos envolvidos nas trevas
Solitários e amargos,
Ergam uma taça de vinho
Para velarem suas dores,
Mas riam como hienas
Das suas lágrimas e clamores
Pois todos vós sois usurpadore
De tudo quanto é desgraça!

Como é bonito ver
Mas ao mesmo tempo odiar
Quem segue pelas ruas sorrindo
Com uma vida amarga e dura,
Passeiam com enorme calma
Transpirando um ar sem culpa
Vivendo em um mundo sombrio
Cheio de ódio e desgraças!

Mas os que planejam chacinas,
Os que no obscuro caminham,
Os que as trevas consomem
Lentamente no fogo infernal,
Aos psicóticos soturnos
Que convivem com a loucura
A eles ergam uma taça de vinho
Para comemorar todo o mal!

E como a solidão é a única
Que desvenda as lacunas
Do negro abismo satânico
De ritos e sonoridades aguçadas
De cores frias e amargas
Retiradas dos corpos languentes
Ela contempla esse quadro demente
Zombando de vossas desgraças!

Pelas torturas do tédio andei alucinado e por entre as dores da solidão dilacerante de almas; passei por isso demais e com o tempo ofegante que me sufoca o ódio tece em meu espírito sua teia. O singular desespero rasga meu espirito; porém o orgulho se desenvolve dentro de min como as raízes das arvores: rasgando e se aprofundando no fundo solo da minha carne! No fim é o que mim resta! O mais extremo orgulho!

ONIPOTENTE:
Por ti debulhei incansavelmente longos momentos de admiração e complacência, quando nas límpidas planícies dos céus alongava a rede para acalentar a extravagante inveja em ti contida, mas do que me adiantou? Logo a natureza reclamou ao componente que lhe pertencia o seu curso, os ditos aproveitáveis da língua foram vomitados e a expressão pérfida da inveja colocou-se a frente da centúria estruturada do ódio; reclamei ao acaso! Desde quando errei? As memórias do universo não mentem ao justo em meu nome! Tudo de acontecido abaixo das brumas que revestem as aguas de cima, dos acontecimentos esbanjados pelos sequazes da terra não luto para atormentar mais minha calma, tenho cautela, apesar de tudo acontecendo pelas planícies terrenas apresento desde a crucificação a benevolência de estar anestesiado entre o infinito de minha morada, na placidez e na benevolência esforço-me em meditar qual foi o meu erro, mas até o momento presente não concluí qual mazela me consome. Sei eu a cicatriz que atormenta! Dei a minha criação a liberdade de ser acobertada pelo íntimo que vem de dentro de suas mentes, porém a perturbação do homem não se acalma; muito pelo contrário, logo tendo o homem sabedoria mais ele se afoga na escuridão do tédio! Quem dos mais sábios felizes foi? A sujeira no homem escorre, a imundície os recepciona pelas entradas que abrem e nas camas que se deitam sua marca negra fica! Ao saírem de onde estão deixam tudo destruído, logo vagam para outras estadias, mas a praga que com eles anda consome tudo ao redor. Podemos reagir contra tal peste?! Nos milênios desde meu retorno não os acometo com meus castigos. Mim coloco no descanso para ver formigarem a terra. Pois que a tudo destruam! O ponto fixo por entre as infindas estrelas é único, tendo chegado eles até a mais voraz fome de destruição que tenham também a mais útil inteligência para aplacar uma vida de miséria, fermentem o barro e criem um ecossistema singular para viverem depois do caos. Precipitei ao abismo o mal enganador, mas a peleja na luta continua assídua, no campo de batalha contínuo os soldados meus não sentem o cansaço, com meu néctar os fortaleço para com poder esmagar os inimigos. E o que seria a luta? (Lama podre que o esgoto acalenta!) Do buraco onde flameja seu ódio também da para ver a verdade que te cerca, contorcendo-se em vossa morada a terra treme aos gritos guturais em domínios alheios. Quando sequazes marcham em nome perverso o nevoeiro da justiça engana seus caminhos, a espada atravessa a cortina de nuvens atingindo os alvos certos, caem à esquerda e direita e para baixo mergulham no fosso tortuoso das trevas ofegante. Como companhia chegam milhares em vossa morada aplacando vossa sede de tortura, tenha-os de brinde montando o teatro dos fantoches masoquistas loucos! Memórias terríveis vagam pelo picadeiro alucinante emurchecidas com veneno fecundo dos corpos derretidos. Feia paisagem ocupou ecossistema forte em miséria, pintei o quadro e o transmutei solidamente em realidade crua, juntei as pedras compondo a casa digna ao mais belo, é sem dúvida tu o merecedor de tal presente, logo sendo o mais orgulhoso tenha esse sentimento por vosso lar, pois é o lar garantia de assossego e alegria, onde as lembranças de seu dono dormem com aconchego, assim o diz o homem que vaga errante longe da família- amaldiçoa o torrão onde nasceu, mas ao estar longe canta em saudade:

Em casebres obscuros e tingidos de fumaça,
Velhas amaldiçoam com alquimias negras,
Apertando laços que prendem consciência e beleza
A cidade que acredita em todo tipo de desgraça!

Os populares privados dos avanços da ciência
E limitados pela cultura do negro mundo medieval
Não conhecem a virtude e riem da opulência
Que pessoas viajadas trazem à sua terra natal.

Diz o enganador:
_ Conviva pobre poeta com civis tão elevados
De preconceito herdado dos seus antepassados,
Aguente o alvoroço e murmurinhos das donas de casa
Que ferem com suas línguas até o padre que passa!

E o vendilhão responde:
_Acostumei-me já com isso (e é de muito longe pouco!).
A vida libertina é solo fértil para críticas.
Mas contemplarei ainda mais os prazeres desta vida
Para quando eu morrer ser reverenciado pelo povo...

Bem tu sabes que o banal e pecador
É quando está morto como um herói sepultado!
E que os puros e bons sempre sofrem um bocado
Não aproveitam a vida e são por poucos lembrados!

O vapor de uma vida pacata faz chover ignorância
Regando com suas tradições vidas a se formar,
Os jovens que nessa cidade moram crescem sem esperança
De vencerem a intolerância (ao contrário!) aos seus pés vão se curvar!

Apesar disso adoramos esse torrão pelo mundo esquecido!
A saudade é mais forte que suas mesquinharias!
Quem dele fugiu procurando ares mais frescos
Com certeza voltarão para descansarem os ossos em seu leito!

E contradiz o enganador:
Não seja esperançoso medíocre homem condenado!
Pois tu não terás o privilégio de embernar em canto calmo!
Sei que gostas de teu ninho, apesar de ser boateiro,
Mas a indigência terá teu corpo, lá jazerá teu esqueleto!

Pois o que não tem onde descansar a infelicidade de sua vida entediante pelos caminhos miseráveis da solidão, sem morada ou aconchego fraterno, que suporte o peso de seu infortúnio mendigando orações nas estadias casuais que encontre, porquanto todos os que na oração permanece terão futuramente o vinho e o pão da minha casa! É o que vos digo!

FILHO EXPULSO:
É! Porém algo em tua história está muito que faltando o principal! O que diria eu quando as trompas do meu ouvido são arrebatadas por tais ondas sonoras? Fui quando contigo estava o mais eloquente bajulador de sua vitalidade, porém nunca a felicidade ao ambicioso está perfeita, e a praga que nos ameaçou foi significativamente forte. Os vendilhões que largou ao mundo fomentou desgraça ao reino que antes era perfeito! O contato imediato de vossa criação não me agradou nem um pouco, pelo contrário, significou um tormento enorme ao meu desejo e orgulho! De onde que iria eu aceitar tal insulto? Compartilhar com tais malditos sua atenção! Que dure meu castigo para crescer dentro de mim meu ódio neste estábulo que fui jogado para apodrecer meu poder glorioso; manifesto e reflito a vontade inabalável de subjugar os insetos que odeio inconsequentemente acima de qualquer coisa no universo negro onde habito. Trágico foi meu destino e dos que comigo desceram até esta maldita furna salgada e espinhenta, mas das dores dos malditos que aqui mim visitam, logo os teus, ovelhas santificadoras de vosso nome, fazem o órgão pulsar com qualidade monumental. Esta é a estátua, o retrato, o quadro de minhas ambições, massa cerâmica do composto petrificado de uma musa doentia, esquálido movimento agitador, palhaço esquizofrênico para minhas alegrias, digo, arremedo cruel que cumpre o fardo de deixar-me um pouco menos ocioso. Destino cruel condenou-me! Vós certamente sois o Deus! O maioral!

ONIPOTENTE:
Sempre incansável em tuas palavras, a luz que carrega contigo não se apagou. Não tenho meus castigos às minhas ovelhas, pois elas não têm culpa do erro cometido, porque a astúcia, a sabedoria dada por mim a ti é e o foi bastante elevada para corromper o espírito fraco da eleita. Logo digo que de um pedaço do total, a fração de toda a soma nunca será bastante forte para suportar uma força que é maior que a soma dita antes, uma vitalidade de teor superior.
FILHO EXPUSSO:
Do que mim adianta ter tal superioridade se assim como os Titãs fui submergido ao fundo de um firmamento, estou sob o Tártaro, e isso é o infortúnio mais insuportável para um espírito grandioso!

ONIPOTENTE:
Não lamente o que provocou com sua própria noção, então vos digo que pior seria se o pior eu o quisesse!

FILHO EXPULSO:
Então se assim o fosse estaria eu por quais lugares, se é que lugar mais severo existe! Criou tu lugar mais insuportável, e se existir estaria em qual dimensão? Quem sabe dentro de vossos mistérios sem solução! Os que todos não sonham sequer em conhecer!

ONIPOTENTE:
Só os elevados a minha altura estão diante de tais segredos!

FILHO EXPULSO:
Vosso Cordeiro e vosso Filho? O humilhado pela vossa criação?

ONIPOTENTE:
É este, o Cordeiro, que tira os pecados do mundo, e é este meu Filho e minha encarnação que libertou a humanidade do caos em que estava em outrora e com seu sangue lavou o mundo de pecados! E os que assim rezam:

“Cordeiro de meu Deus
Que tirais os pecados do mundo
Tenha piedade de nós que somos fracos!

Tenha complacência de nós e do mundo inteiro!

Pois é a da tua misericórdia e paixão
Que tem por nós homens misericórdia!

Tenha complacência de nós e do mundo inteiro!”

Estão assegurados de males enganadores!

FILHO EXPULSO:
Os que em tuas igrejas pisam estão muitos por se invejarem e se destruírem mentalmente, em uma guerra intima, subjugados pelo sincronismo perfeito de uma uniformização silenciosa de olhares nefastos direcionados uns aos outros. Lembro-me de tu encarnado no nazareno, quando chegou ao santuário teu e do comercio que lá havia tornou um caos entre as chibatadas de um ramo em tuas mãos! Há... Foi espetacular tal visão! Mas do que adiantou? Se o comércio deixou de estar contido no santuário logo o santuário se introduziu ao comercio! E assim o níquel e o ouro, a prata e a seda se afirmaram em tais locais e o representante teu na terra com a sua velhice suprema definha, não suportando a coroa mundana em sua cabeça, que tolice tentar ser forte com a carne em declínio! Imagino-o com doze coroas na cabeça, o que seria de seu corpo flácido?!E em seus cânticos de adoração dizem em vós alta nos bancos de madeira, ajoelhados e subjugados pela aculturação católica, o velho flácido diz em voz alta “fiquemos de pé desses joelhos, olhai com bondade para a carne do Cristo que purificou todo o mundo com o sangue sagrado que emanou de seu corpo”. Ora, agora digo, há alguém hoje na terra que fostes como Cristo? Existe, pois, alguém com os concelhos de Platão? Concorre alguém com o orgulho de Nietzsche? Ou qualquer que seja racional como Emmanuel Kant? Formiga na inteligência de alguém hoje a simplicidade de Galileu ou a firmeza de Espinoza? E entre tantos que pelos séculos anteriores viveram acobertados com um pouco de minha luz na contemporaneidade há algum igual? Nada há! A terra esta podre e o período em que os teus vive é sem duvida o mais pobre!

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