quinta-feira, 24 de março de 2011

Estudante de Origem Popular

Por Carlos Santos


Quando entramos na universidade, nos encantamos com a grandiosidade que este termo abrange, iluminamos nossas mentes e expandimos nossos horizontes para o novo e desconhecido campo do conhecimento e seu papel social. Ou pelo menos era isso que o nome Universidade deveria ter e fazer em nós!!.

Mas quando aqui chegamos percebemos que nem todos nossos encantos, sonhos e desejos grandiosos, serão possíveis com o título de universitário. Nos encontramos com frases novas e entre elas Estudantes de Origem Popular, coisa pela qual nunca nem tinha ouvido falar, trata-se de uma forma elegante de nos chamar de baixa renda. 

Para nós estudantes "baixa renda" - irei usar essa expressão por me identificar melhor -  não podemos falar de nós sem comentar a respeito da Residência Universitária e/ou Casa do Estudante, residência que acaba se tornando nosso ponto de referência, nosso guia, nosso porto seguro, que muitas vezes também nos pede muito, cobra de nós a dor da saudade de seus amigos deixados pra trás, de sua vida despreocupada, do futebol no fim de semana, das bilocas, das brincadeiras de criança de seus amores do passado.

Essa mesma residência que nos faz tremer ao ouvir Belchior falar: “há muito, muito tempo que estou longe de casa”. Às vezes ela esquece que não queremos um teto só para morar, queremos mais que isso, queremos estudar com qualidade, ter apoio, conforto, dignidade, carinho, paz e um abraço

Queremos um espaço onde ao termino do dia cheio das salas de aula cansativas de professores carrascos podermos dizer: “estou indo para casa, que bom!”. E ao chegarmos à residência/casa possamos dar continuidade aos estudos, que muitas vezes atropelados pela correria do dia não conseguimos dar conta.

São tantos trabalhos, teste, seminários, provas; que chegam as nos por a prova de nossas escolhas, de nossas decisões; se essas foram mesmo acertadas, se isso é o que queremos, se tudo vale apena, qual e quantas mais dores teremos que suportar, que devemos continuar ou desistir, voltar para casa e dizer: “desculpa mãe, não deu”.

Foi em momentos de reflexão como estes que vi um dia alguém, que não me lembro quem, quando ainda morador de casa de estudante, comentando sobre os corredores da universidade e como ele viu em seu setor de aulas um corredor cheio de quadros de figurões da ciência e tudo mais, ele passava admirado por tantos doutores e doutoras ali reunido; quando um quadro em especial te chamou atenção, brilhante e bem emoldurado, onde a seguinte frase estava inscrito: “abra e veja quantas pessoas importantes passou por aqui”, ele em seus pensamentos relutou acreditando que talvez nunca sua foto poderia ali esta, mesmo assim por curiosidade resolveu abrir e para sua surpresa la tinha um espelho e ele pode se ver entre tantas celebridades e é nessa pespectiva, que nossas lutas já são significativamente vitoriosas, que nos agarramos. 

O que queremos não é muito, vocês que assinam os papéis até já tem, nós queremos viver, sonhar e realizar. Queremos poder estar no espelho desse corredor, nos encontrar e poder dizer, com todo orgulho, sou Estudante de Origem Popular.


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